[...] NÃO POSSO ESTAR NO MUNDO DE LUVAS NAS MÃOS CONSTATANDO APENAS. A ACOMODAÇÃO EM MIM É APENAS UM CAMINHO PARA A INSERÇAO, QUE IMPLICA DECISÃO, ESCOLHA, INTERVENÇAO NA REALIDADE [...] EM FAVOR DE QUE ESTUDO ? EM FAVOR DE QUEM ? CONTRA QUEM ESTUDO? PAULO FREIRE,1999




REALIZADORES:
ALAN PEREIRA CAVALCANTI
CLAYTON FREITAS SILVA
DIEGO LEONARDO BARROS
EDNALDO MARQUES DA SILVA
ELIEL DAMASCENA DO AMARAL

Acadêmicos do 7º semestre, do curso de Geografia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados.

Blog realizado na disciplina de Geotecnologias e Tecnologias de informação sob orientação do professor Charlei Aparecido da Silva.

sábado, 3 de julho de 2010

ENTREVISTA COM MILTON SANTOS


"O sonho obriga o homem a pensar"

Maurício Silva Junior (*)
Doutor Honoris Causa em 14 universidades do Brasil e do mundo, ganhador do Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, tido como o Nobel da área, o geógrafo Milton de Almeida Santos não se conforma com a supervalorização que a humanidade dá à tecnologia. "As pessoas têm atribuído vida à técnica, mas as coisas não nos comandam", defende com ênfase. Autor de mais de 40 livros e 300 artigos em revistas científicas da vários países, o professor esteve este mês na UFMG, convidado para ministrar a aula inaugural da Escola de Engenharia, no auditório da Reitoria. Em seguida, Milton Santos concedeu a seguinte entrevista ao BOLETIM:

BOLETIM - O senhor tem feito severas críticas à globalização. Como a conceituaria?
MILTON SANTOS - A globalização, parafraseando o teórico e revolucionário russo Lênin, é a face suprema do imperialismo. A humanidade esperou milênios para se globalizar, o que não aconteceu antes porque não havia as condições materiais necessárias. Com o aumento da produção e o desenvolvimento de técnicas avançadas, um pequeno grupo de empresas as seqüestrou. As corporações usam estes recursos extraordinários em seu próprio benefício e em prejuízo da humanidade.
BOLETIM - Qual o papel da Universidade nesse contexto? MILTON SANTOS - A Universidade é importante na medida em que é capaz de codificar e entregar à sociedade o discurso que as pessoas desejam, necessitam. É preciso produzir algo que seja crível, audível, utilizável e eficaz politicamente.
BOLETIM - Como o senhor analisa a utilização de tecnologias e meios de comunicação na atualidade? MILTON SANTOS - Quando eu falo meio, estou me referindo a território. E acho que o território é a mensagem. Nele, estamos todos juntos e separados. Somos conduzidos igualmente a um destino e obtemos resultados diferentes. Em Belo Horizonte, por exemplo, estão todos juntos: ricos, pobres, classe média, brancos, negros, índios. A técnica em si não é a mensagem. Ela só é utilizada por quem tem poder: as grandes agências de notícias, universidades, editoras e as igrejas locais. São essas instituições que seqüestram os meios.
BOLETIM - Como o senhor analisa a excessiva difusão de informações? MILTON SANTOS - Não há produção excessiva de informação, mas de ruído. Existem o fatos. As notícias são interpretação deles. Como as agências de notícias pertencem às grandes empresas, os acontecimentos são analisados de acordo com interesses pre-determinados. Muitos economistas que escrevem em jornais, por exemplo, publicam diariamente o desejo de empresas das quais são consultores. As notícias são publicadas como expressão da realidade e o discurso acaba se tornando hegemônico. É essa mesma indústria que transforma em best seller um livro do Jó Soares, antes mesmo do lançamento. E aí de novo eu convoco a Universidade, como espaço alternativo para difundir nossas idéias. A palavra é uma paulada. Eu venho até a UFMG, falo para 200 pessoas e o resultado é formidável.
BOLETIM - O homem de hoje é um ser ético? MILTON SANTOS - O ser humano agora é convocado a não ser ético. E às vezes as pessoas seguem essa tendência porque precisam sobreviver, criar os filhos, sustentar a família. Mas, no fundo, todos guardam a consciência do que é bom, com a esperança de utilizá-la um dia.

Obs. (*) Maurício Guilherme Silva Jr. é Jornalista e ex-acessor de imprensa da UFMG. A entrevista acima, foi realizada pelo mesmo, enquanto trabalhava no BOLETIM, periódico jornalístico da Universidade Federal de Minas Gerais e gentilmente cedido para reprodução em nosso site.

Nenhum comentário:

Postar um comentário